quero pra sempre
ser menina
dançar com lençóis
abraçar travesseiros
ainda é brincadeira
arrumar a cama.
Mas cresci
e vez por outra
me pego
adolescendo sem motivo.
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
quinta-feira, 8 de setembro de 2011
Solitude
De repente, Ivan se viu sozinho, em silêncio no escuro. Não estava triste nem com medo, apenas quieto. O silêncio fica mais à vontade na escuridão. Ivan, ao contrário do que normalmente fazia, resolveu continuar inerte para esticar aquele momento mais um pouco, ver até onde iria aquilo. E ficou. Quieto, pensando. Deve ter ficado assim até dormir e no dia seguinte, com o sol entrando pela janela, Ivan acordou outro. Era o mesmo Ivan de sempre, mas agora tinha um certo prazer indolente em estar só. Não contou a ninguém, não mudou a sua rotina, mas sempre que se encontrava sozinho, em silêncio no escuro, partilhava consigo mesmo aquele conforto inconfessável.
quarta-feira, 29 de junho de 2011
segunda-feira, 27 de junho de 2011
domingo, 19 de junho de 2011
quinta-feira, 9 de junho de 2011
asa nisi masa
Eu, Ele, Eu, Eu-Ele,
em corte seco,
enquanto invento uma memória:
o cheiro do quarto
do copo de café
do tapete lavado,
também estou lá.
Dois espelhos se miram
e me vejo espalhada
em telas:
olho para Ele
e infinitamente
me repito
em abismo.
em corte seco,
enquanto invento uma memória:
o cheiro do quarto
do copo de café
do tapete lavado,
também estou lá.
Dois espelhos se miram
e me vejo espalhada
em telas:
olho para Ele
e infinitamente
me repito
em abismo.
terça-feira, 7 de junho de 2011
ser ou estar
Em português temos a possibilidade de falar ser ou estar, em verbos diferentes, como coisas diferentes e eu sempre gostei disso. Parar o instante com um verbo nas outras línguas é impossível. Me lembra o portal de Zaratustra, que é das coisas mais linda que conheço e reproduzo aqui:
"Este longo corredor para trás: ele dura uma eternidade. E aquele outro corredor adiante é uma outra eternidade. Eles se contradizem, esses caminhos; eles se chocam frontalmente: e aqui nesse portal é onde eles se juntam. O nome do portal está escrito ali em cima: INSTANTE.
É como passar pelo portal a cada momento, portais e portais consecutivos: estou feliz, estou romântico, estou com fome, estou cansado, estou calma. Em outras línguas existe a não menos bela ambiguidade de que tudo que é não necessariamente será. Nós que passamos no portal, às vezes empurramos as coisas para o próximo portal, para o estatuto do estar, porque se as coisas são em português, elas são; sérias e definitivas.
Eu estou com saudade de escrever poesia.
"Este longo corredor para trás: ele dura uma eternidade. E aquele outro corredor adiante é uma outra eternidade. Eles se contradizem, esses caminhos; eles se chocam frontalmente: e aqui nesse portal é onde eles se juntam. O nome do portal está escrito ali em cima: INSTANTE.
É como passar pelo portal a cada momento, portais e portais consecutivos: estou feliz, estou romântico, estou com fome, estou cansado, estou calma. Em outras línguas existe a não menos bela ambiguidade de que tudo que é não necessariamente será. Nós que passamos no portal, às vezes empurramos as coisas para o próximo portal, para o estatuto do estar, porque se as coisas são em português, elas são; sérias e definitivas.
Eu estou com saudade de escrever poesia.
quarta-feira, 25 de maio de 2011
sexta-feira, 20 de maio de 2011
ESTRANHO
Ser estranho não é uma condição, mas um estado, uma passagem, como uma rua escura em que você corre para passar rápido por ela. Afinal, o estranho é lento. Ele ainda está se adaptando e isso toma tempo. O estranho passa e volta. Você sobe no carrossel da estranheza e depois de um tempo ele para de rodar. Mas o estranho não é o outro, e sim, nós.
De estranho para estranho, nos cumprimentamos como iguais.
De estranho para estranho, nos cumprimentamos como iguais.
sábado, 14 de maio de 2011
πάντα ῥεῖ
Acordei com o seguinte pensamento:sístole e diástole, sístole e diástole. A princípio, esse pensamento me transtornou: por que será que se acorda pensando uma coisa dessas?
Por trazer, ao abrir dos olhos, elementos tão naturais esse pensar me parecia a mais estranha das ideias. Não satisfeito, o pensamento não foi embora e naquele instante-eternidade entre acordar e levantar continuei a pensar como se só existisse isso no mundo: sístole, diástole. Repeti para a minha cabeça e aos poucos eu dizia para o meu corpo a ordem do dia. E assim foi que eu comecei a acalmar, pensei que tudo flui, o sangue, o sono, as vontades, as manhãs. "Tudo é um fogo acendendo e apagando em medidas", sístole e diástole, sístole e diástole. Levantei calma e o meu dia fluiu tranquilo.
segunda-feira, 9 de maio de 2011
Aos nossos discos
Há algum tempo eu tento juntar os vinis espalhados pelas casas da família, pois, como é sabido, eu curto uma nostalgia, já na adolescência, eu escrevia diário para poder ler sobre o dia anterior com saudade. Quanto aos discos, o problema era o seguinte: minha avó querida estava com a vitrola e eu nunca conseguiria tirar qualquer coisa dela e os discos do meu pai, que eram a maioria, estavam em alguma casa dele que eu não sabia qual era. A vó Dorinha depois de um tempo acabou me devolvendo a vitrola, os discos do meu pai eu consegui pegar numa faxina logo após a obra na casa e por fim, ganhei um amplificador novo do meu padrinho para poder aproveitar o som. Enfim, ontem, dia das mães, juntei tudo para um final feliz. Bom, final? Na verdade, dei uma paradinha agora, mas estou no meio de uma grande bagunça e vários discos para guardar.
É que aquele aparelho que eu ganhei no meu aniversário de 10 anos para ouvir meus discos agora parece um imenso trambolho e para arrumar lugar no quarto tive que ficar rearrumando os livros, os DVDs, o aparellho de DVD, etc. A coleção dos Pensadores, por exemplo, voltou para o armário. E os discos, que se chamavam álbuns, provavelmente por conta disso, são grandes, de uma época em que as estantes tinham espaço e que as salas tinham estantes. Os discos da minha mãe estavam escondidos em cima do armário, muito limpos, foi fácil arrumar e tocar. Os meus discos estavam na casa da minha avó e era tanta porcaria que trouxe muito poucos, afinal, ninguém passou a infância nos anos 80 impunemente. Melhor, muito melhor mesmo era pegar os disco da vó: música cubana, trilhas instrumentais de cinema, robertos e erasmos. Os discos do meu pai só consegui pegar hoje. E como eles foram salvos das traças e estavam sem capas, me deram um pouco mais de trabalho. Nada que água, sabão e flanelas não estejam dando conta. Até agora, já consegui colocar a metade para tocar, nem que seja pelo menos uma faixa.
Eu escuto e vejo como o tempo passava diferente nessa época em que se via o disco rodar e o tamanho das faixas marcadas na bolacha. A música pesava nas mãos. Você fica mais de peito aberto com a obra como um todo, a fruição era e até hoje é diferente. Eu tenho a discografia do Caetano no meu computador e perdi a conta de quantas vezes eu já escutei as minhas favoritas, até porque elas estão também no meu celular. Mas só hoje eu consegui ouvir o "Muito" inteiro, sem pular as faixas. Só hoje também, eu entendi o que meu pai sempre falou sobre o barato de "Ca-já", porque hoje eu ouvi a música pela casa e não olhando para uma tela.
É curioso pensar que esses discos da minha vó, meus, da minha mãe e do meu pai que eu juntei assim, de repente, coisa que ficou separada por anos, cada um na sua, sem o menor nexo ou familiaridade estão dividindo a mesma estante sem nenhum pudor, promiscuidade total: Jon Secada e Ravel, Daniela Mercury e Lô, Supertramp e Trem da alegria.
Mas o melhor de tudo foi ver que como num jogo da memória, os iguais foram aparecendo. Acho que meus pais depois de se separarem acabaram se recapitalizando dos discos que ficaram com o outro e eu agora tenho dois "clube da esquina", dois "álibi" da bethânia, dois "dangerous" do michael jackson, dois "gerais" e por aí vai. Assim eu vejo que eles realmente tinham algumas coisas em comum, essas identidades, que as pessoas vêem em mim, vez ou outra, e eu desconheço. Agora eu tenho em dobro esses espelhos, para ver e ouvir sempre que eu quiser.
quarta-feira, 4 de maio de 2011
terça-feira, 3 de maio de 2011
Essas distantes pessoas queridas
Ontem encontrei coisas que abomino: a superficialidade, o se achar melhor do que os outros, a intolerância, o preconceito, a crença de que só o dinheiro e o consumo ostensivo podem geram prazer, o lixo da indústria cultural como único bem imaterial. Estou irritada e triste até agora porque essas coisas que abomino, encontrei em pessoas queridas, que só estavam um pouco afastadas. Este texto é como um daqueles que eu escrevia em diários de anos atrás, escrevo para entender, desabafar e esquecer.
Não sei o que está havendo com o mundo e como indivíduos assim, que eu conheço desde sempre, que eram crianças amorosas e adolescentes alegres, viraram adultos tão pouco admiráveis. Que caminhos tomamos para em 8 anos seguirmos trajetórias e escolhas tão diferentes. Chegando em casa sem resposta e sem sono abri o livro que tinha acabado de chegar pelo correio, afinal, estava arrasada e poucas coisas me dão tanto prazer quanto abrir um livro novo que há tanto tempo eu quero ler. O livro é "Diferença e repetição" de Deleuze e, assim, comecei a desfrutar da minha noite.
Logo na introdução está lá: "se a repetição existe, ela exprime, ao mesmo tempo, uma singularidade contra o geral, uma universalidade contra o particular, um notável contra o ordinário, uma instantaneidade contra a variação, uma eternidade contra a permanência. Sob todos os aspectos, a repetição é a transgressão." A repetição que sempre foi um barato meu, uma coisa que eu curtia sem saber muito com quem falar, fiquei paralisada por aquela sentença. No livro, Deleuze associa a diferença a generalidades, enquanto a repetição é singularidade.
Pensei nessas distantes pessoas queridas e em como tudo o que elas falam, prezam e desejam está muito mais no âmbito do geral que do singular. A minha bicicleta, por exemplo, representa pra mim a forma como eu quero passar pelo mundo, devagar, sentindo a brisa nos cabelos, olhando a paisagem e contando apenas com as minhas pernas. É uma opção singular, enquanto no geral, valorativamente, este meio de transporte não chega nem perto do ar condicionado do carro de vidros escuros fechados.
Poderia ficar arrumando mais algumas explicações ou exemplos, falar sobre uma certa nostalgia do transcendente que quando não é suprida pela obra de arte, acaba encontrando outros caminhos como o fanatismo religioso ou a intolerância que tenta eliminar a diferença, tudo em busca de uma pureza que já não é possível no mundo de hoje. Mas talvez seja melhor só deixar pra lá, ficar quieta, passear de bicicleta por aí recitando para mim mesma algum poema de cor. Já que "a cabeça é o órgão das trocas, mas o coração é o órgão amoroso da repetição".
Não sei o que está havendo com o mundo e como indivíduos assim, que eu conheço desde sempre, que eram crianças amorosas e adolescentes alegres, viraram adultos tão pouco admiráveis. Que caminhos tomamos para em 8 anos seguirmos trajetórias e escolhas tão diferentes. Chegando em casa sem resposta e sem sono abri o livro que tinha acabado de chegar pelo correio, afinal, estava arrasada e poucas coisas me dão tanto prazer quanto abrir um livro novo que há tanto tempo eu quero ler. O livro é "Diferença e repetição" de Deleuze e, assim, comecei a desfrutar da minha noite.
Logo na introdução está lá: "se a repetição existe, ela exprime, ao mesmo tempo, uma singularidade contra o geral, uma universalidade contra o particular, um notável contra o ordinário, uma instantaneidade contra a variação, uma eternidade contra a permanência. Sob todos os aspectos, a repetição é a transgressão." A repetição que sempre foi um barato meu, uma coisa que eu curtia sem saber muito com quem falar, fiquei paralisada por aquela sentença. No livro, Deleuze associa a diferença a generalidades, enquanto a repetição é singularidade.
Pensei nessas distantes pessoas queridas e em como tudo o que elas falam, prezam e desejam está muito mais no âmbito do geral que do singular. A minha bicicleta, por exemplo, representa pra mim a forma como eu quero passar pelo mundo, devagar, sentindo a brisa nos cabelos, olhando a paisagem e contando apenas com as minhas pernas. É uma opção singular, enquanto no geral, valorativamente, este meio de transporte não chega nem perto do ar condicionado do carro de vidros escuros fechados.
Poderia ficar arrumando mais algumas explicações ou exemplos, falar sobre uma certa nostalgia do transcendente que quando não é suprida pela obra de arte, acaba encontrando outros caminhos como o fanatismo religioso ou a intolerância que tenta eliminar a diferença, tudo em busca de uma pureza que já não é possível no mundo de hoje. Mas talvez seja melhor só deixar pra lá, ficar quieta, passear de bicicleta por aí recitando para mim mesma algum poema de cor. Já que "a cabeça é o órgão das trocas, mas o coração é o órgão amoroso da repetição".
segunda-feira, 25 de abril de 2011
Fred
Fred era calado, gostava de ver televisão e desenhar. Um garoto esquisitão para quem tinha 8 anos, poucos amigos e poucas palavras. Fred morava com o bisavô, Agenor, numa casa no subúrbio, onde se ouvia principalmente o canto dos passarinhos da casa, em suas gaiolas e a rádio de notícia, que o Seu Agenor ouvia baixinho ao pé do ouvido. Se não fosse por esses dois sons, poderíamos dizer que era como se Fred e o bisavô vivessem em um filme mudo. Não era uma questão de não se entenderem, não, muito pelo contrário, eles eram apenas pessoas silenciosas que aprenderam a se comunicar sem palavras. Ao lado do quarto de Fred havia um piano que ele nunca ousou tocar, aliás, desde a morte de sua bisavó, Dona Elisete, o piano se tornou mais um morador silencioso daquela casa. Seu Agenor sempre dizia que o som desse instrumento espantava o canto dos passarinhos. E Fred, de maneira alguma, queria calar o som principal que habitava aquela casa.
Dona Elisete
Dona Elisete ainda era nova e orgulhosa falava para todos que já era bisavó. Ela não tinha muito com quem conversar, seus filhos moravam longe, seu neto trabalhava o dia inteiro e seu marido falava muito pouco. Este, seu Agenor, gostava de passarinhos em gaiolas e de ouvir o noticiário. Ele ficava ouvindo as notícias do radio AM que nunca desligava nem na hora de dormir. E Dona Elisete, como não tinha muito com quem conversar, adorava andar de ônibus para puxar assunto com quem sentasse ao seu lado. Que mochila pesada, quer que eu segure, olha, acho um absurdo isso, e eu já sou bisavó, sei bem que não se usa esses livros todos. Quando voltava de seus passeios, com alegria, corria para tocar seu piano, antes que Seu Agenor chegasse. Seu Agenor não gostava que ela tocasse piano, principalmente música clássica, atrapalhava seus passarinhos. Quando ele chegasse, ela se levantaria, antes que ele percebesse. Não gostava de cara feia, e Seu Agenor de cara feia, franzia o rosto de um jeito que o deixava parecido com seus passarinhos. Dona Elisete deixava pra lá, como havia deixado o sonho de ser pianista, a vontade de pintar as unhas e os lábios de vermelho e tantas outras coisas que ficaram pelo caminho. Ela se voltava para o bisneto de 6 meses que ficava no berço no quarto ao lado do piano. Esse sim, sempre tinha no rosto um sorriso para ela e gostava muito de ouvi-la tocar.
quinta-feira, 21 de abril de 2011
As paredes do feriado
as paredes do feriado
se juntam a longos corredores
onde ecos compridos
vêm, às vezes dar notícias.
as paredes do feriado
são curtas e finas,
será que elas
têm ouvidos?
é mais provável que tenham
olhos ou línguas.
as paredes do feriado são
limpas e ásperas
e eu as aproveito
para pendurar meus brancos
lençóis guardados,
lavados.
se juntam a longos corredores
onde ecos compridos
vêm, às vezes dar notícias.
as paredes do feriado
são curtas e finas,
será que elas
têm ouvidos?
é mais provável que tenham
olhos ou línguas.
as paredes do feriado são
limpas e ásperas
e eu as aproveito
para pendurar meus brancos
lençóis guardados,
lavados.
terça-feira, 12 de abril de 2011
aos fracassos felizes
brindemos aos fracassos felizes
às promessas descumpridas
com gosto,
à prazerosa perda de tempo
viva o não-fazer delirante!!!
controle remoto
telefone sem fio
wireless
careless.
Dica:
preste atenção ao
giro do ventilador de teto
e ao passo de
vagar da rede,
de dormir.
Loser
é vender seu tempo
e ignorar o que há
de beleza por aí
às promessas descumpridas
com gosto,
à prazerosa perda de tempo
viva o não-fazer delirante!!!
controle remoto
telefone sem fio
wireless
careless.
Dica:
preste atenção ao
giro do ventilador de teto
e ao passo de
vagar da rede,
de dormir.
Loser
é vender seu tempo
e ignorar o que há
de beleza por aí
Ipanema
um copo de mate
gelado na praia
um vento que bate
gelado na cara
amigas em roda
qual a medida certa da felina
vontade de sair por aí,
mulheres, o vento, o mate
a roda?
gelado na praia
um vento que bate
gelado na cara
amigas em roda
qual a medida certa da felina
vontade de sair por aí,
mulheres, o vento, o mate
a roda?
sexta-feira, 8 de abril de 2011
crise
que sacanagem
aqui nessa cidade
todos perguntam
a minha idade
mentir ou não
omitir
eis a questão
aqui nessa cidade
todos perguntam
a minha idade
mentir ou não
omitir
eis a questão
quinta-feira, 7 de abril de 2011
Susana
Susana tinha medo da morte e pensava consigo mesma, e quem não tem? É verdade, esse deve ser um medo tão comum que nem deveria contar. Mas num dia de outono começou a chover ao meio-dia. Susana pensava consigo mesma que chover ao meio-dia não era comum no Rio de Janeiro. No Rio chovia ou de manhã, ou no fim da tarde, ou à noite, ou de madrugada, pensava mais um pouco e repetia que chovia ou de manhã ou no fim da tarde, ou à noite ou de madrugada. Que estranha aquela chuva. Susana pegou seus óculos de grau e foi na janela olhar a chuva. Ao atrevessar a janela percebeu que seus óculos molharam com a chuva e que era melhor tirá-los. Pensou que a água se dá melhor no corpo da gente, nada entre nós e a chuva seria melhor, seria melhor um peito aberto para abraçar a chuva. Uma chuva ao meio-dia não causaria tantos estragos no trânsito era uma chuva complacente e merecia o seu abraço. Saiu de casa, dando duas voltas na chave, Susana sempre dava duas voltas na chave antes de sair, não sabia o porquê, simplesmente achava certo. Na rua assobiou "Singin' in the rain" porque não se atrevia a cantar, já ousava demais sem o guarda-chuva. Molhava-se, sem medo, sem medo de gripe ou outras doenças, nem parecia ela mesma, Susana, a professorinha da 4a séria do colégio Brigadeiro XXIX. Olhava para um vira-lata que também se molhava e não se preocupava com crianças e doenças e até mesmo a morte. Susana se viu momentaneamente naquele cachorro, ali assim, tão livre como ela naquela chuva. Pegar aquele cachorro e levá-lo para casa era uma maneira dela congelar para sempre aquele momento de rebeldia. A chuva parou e Susana voltou para casa. Era feriado. Ela deu duas voltas na chave para tracar novamente a porta, tirou as roupas molhadas e as jogou no tanque, o cachorro molhado ficou na área de serviço. E depois do banho, ela começou a preparar a aula para o dia seguinte.
segunda-feira, 4 de abril de 2011
quarta-feira, 16 de março de 2011
segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
Minha avó falava toda noite
"tem que passar um creminho
nos pés para dormir fresquinha".
E eu passava, claro.
A minha avó tinha os lençóis
mais cheirosos do mundo,
dormir lá era maravilhoso,
a roupa de cama
tinha cheiro de abraço,
ou de ninho,
cheiro de brincar sozinha
na varanda o dia todo
para construir universos.
As coisas que a vó Dorinha
delicadamente, aconselhava,
eram a única lei que eu conhecia.
"tem que passar um creminho
nos pés para dormir fresquinha".
E eu passava, claro.
A minha avó tinha os lençóis
mais cheirosos do mundo,
dormir lá era maravilhoso,
a roupa de cama
tinha cheiro de abraço,
ou de ninho,
cheiro de brincar sozinha
na varanda o dia todo
para construir universos.
As coisas que a vó Dorinha
delicadamente, aconselhava,
eram a única lei que eu conhecia.
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
eu queria ficar quietinha, parada, só absorvendo esse mundo louco, a velocidade que as coisas andam acontecendo, como uma lagarta, ou uma estátua viva. Pintei a minha pele parda de um prata imaginário e fiquei, simplesmente fiquei, numa vontade estática. É tudo mentira, é tudo figura. E eu parada ouvindo, quieta. Não precisei de um lugar isolado, verde ou dourado, eu apenas fiquei quieta na minha cama enquanto o mundo acontecia.
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
sexta-feira, 21 de janeiro de 2011
cuspindo marimbondos
coça coça sem parar
é louco e bom
e não para de coçar
será o calor?
será o limão
o pernil ou
o camarão?
brotueja?
catapora?
coça coça e coça
antialérgico, banho frio
hidratante
e não para de coçar
Dr, o que eu faço
pra acalmar o empolar?
_felicidade, minha cara,
3 vezes ao dia,
e a comichão vai sarar
é louco e bom
e não para de coçar
será o calor?
será o limão
o pernil ou
o camarão?
brotueja?
catapora?
coça coça e coça
antialérgico, banho frio
hidratante
e não para de coçar
Dr, o que eu faço
pra acalmar o empolar?
_felicidade, minha cara,
3 vezes ao dia,
e a comichão vai sarar
terça-feira, 18 de janeiro de 2011
de um dia pro outro
Guarda um pedaço pra Duda,
minha avó sempre fala
claro que é
o melhor pedaço
mítico pedaço
na geladeira no fogão no forno em cima da mesa
aquele intocado pedaço
proibido.
Olha o pedaço de Duda!
meu avô repete enquanto alguem se serve
temendo que se esqueça o compromisso
de fazer Duda presente em todas
as refeições.
minha avó sempre fala
claro que é
o melhor pedaço
mítico pedaço
na geladeira no fogão no forno em cima da mesa
aquele intocado pedaço
proibido.
Olha o pedaço de Duda!
meu avô repete enquanto alguem se serve
temendo que se esqueça o compromisso
de fazer Duda presente em todas
as refeições.
domingo, 16 de janeiro de 2011
ser livre
se eu pudesse
ai, se eu pudesse
ser a moça livre
dos meus sonhos de
criança
talvez não houvesse esse
vazio perdido em algum
lugar do corpo
ou esse copo
meio vazio de tudo
liberdade é adolescer
sem pressa
e "indolescer"
sem medo
ai, se eu pudesse
ser a moça livre
dos meus sonhos de
criança
talvez não houvesse esse
vazio perdido em algum
lugar do corpo
ou esse copo
meio vazio de tudo
liberdade é adolescer
sem pressa
e "indolescer"
sem medo
sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
Freedom 90'
Fico pensando no porquê das coisas, principalmente, no porquê das minhas coisas, afinal, isso é uma egotrip, e chegam umas perguntas loucas como por que eu tenho tanta vontade de dizer sim sempre pra tudo e depois eu vejo que não dá? Ou por que essa saudade de tudo? Ou ainda por que ouvir tanta música anos 90?
Para essa última questão, uma amiga minha disse que as pessoas se apegam a momentos em que foram muito felizes e que deve ser por isso que eu escuto George Michael e Semisonic com tanta freqüência. Mas quem é tão feliz assim na adolescência? Tava pensando, e acho que fui. Eu era feliz, eu confiava demais em mim, eu achava que tudo ia dar certo dentro de pouquíssimo tempo. Eu acreditava que era necessário apenas saber a história do rock e ver os filmes europeus e asiáticos do momento que estaria pronta.
A adolescência deve ser uma espécie de anti-sala da vida (adulta) na qual montamos o nosso destino, o nosso projeto de vida, e depois é que vemos que as coisas não são exatamente assim. Como sou uma pessoa que ama planejar, acho que o momento em que eu tinha tempo para fazer o roteiro da minha vida, fechadinho, bonito, sensível, cheio de viradas, e claro, vários finais felizes, esse momento devia ser ótimo mesmo.
Mas o que a gente faz agora quando a vida ta no ar e todos os acertos têm que ser feitos na improvisação? Não sei, eu sigo improvisando, reeditando, gostando ou não do resultado, mas sempre ligada. Talvez, planejar a felicidade futura, como eu fiz na adolescência, como as pessoas fazem quando pensam em ganhar na loteria, ou quando um novo ciclo se inicia (formatura, nascimento, emprego novo, etc), talvez, seja esse o verdadeiro sabor da felicidade, porque essa felicidade é plena, perfeita e muito real porque está acontecendo nas nossas cabeças. Acho que a realidade que acontece nas nossas cabeças é a melhor que conheço, e ela atende pelo nome de sonho.
Para essa última questão, uma amiga minha disse que as pessoas se apegam a momentos em que foram muito felizes e que deve ser por isso que eu escuto George Michael e Semisonic com tanta freqüência. Mas quem é tão feliz assim na adolescência? Tava pensando, e acho que fui. Eu era feliz, eu confiava demais em mim, eu achava que tudo ia dar certo dentro de pouquíssimo tempo. Eu acreditava que era necessário apenas saber a história do rock e ver os filmes europeus e asiáticos do momento que estaria pronta.
A adolescência deve ser uma espécie de anti-sala da vida (adulta) na qual montamos o nosso destino, o nosso projeto de vida, e depois é que vemos que as coisas não são exatamente assim. Como sou uma pessoa que ama planejar, acho que o momento em que eu tinha tempo para fazer o roteiro da minha vida, fechadinho, bonito, sensível, cheio de viradas, e claro, vários finais felizes, esse momento devia ser ótimo mesmo.
Mas o que a gente faz agora quando a vida ta no ar e todos os acertos têm que ser feitos na improvisação? Não sei, eu sigo improvisando, reeditando, gostando ou não do resultado, mas sempre ligada. Talvez, planejar a felicidade futura, como eu fiz na adolescência, como as pessoas fazem quando pensam em ganhar na loteria, ou quando um novo ciclo se inicia (formatura, nascimento, emprego novo, etc), talvez, seja esse o verdadeiro sabor da felicidade, porque essa felicidade é plena, perfeita e muito real porque está acontecendo nas nossas cabeças. Acho que a realidade que acontece nas nossas cabeças é a melhor que conheço, e ela atende pelo nome de sonho.
quarta-feira, 5 de janeiro de 2011
às vezes tenho vontade de ficar quietinha
uma vontade-árvore de só me balançar
ao sabor do vento,
ou de ser pequena,
miudinha mesmo
daquele tipo de coisa
que se espanta quem
encontra.
talvez seja só
uma vontade de dizer não
ou um cacoete estranho de me imaginar
coisa, árvore ou bicho.
o bom da vontade é que ela
vem, mas pode se atrasar ou
ter preguiça.
Ser gente tem dessas coisas
uma vontade-árvore de só me balançar
ao sabor do vento,
ou de ser pequena,
miudinha mesmo
daquele tipo de coisa
que se espanta quem
encontra.
talvez seja só
uma vontade de dizer não
ou um cacoete estranho de me imaginar
coisa, árvore ou bicho.
o bom da vontade é que ela
vem, mas pode se atrasar ou
ter preguiça.
Ser gente tem dessas coisas
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