sexta-feira, 31 de maio de 2013

pessoa

ontem, antes de dormir lembrei da primeira vez que li Fernando Pessoa. Aqui em Triunfo, era uma tarde qualquer, num inverno qualquer nos anos 90 e eu aproveitava a calma da minha cama centenária. Tudo ficou em silêncio, a casa se acalmou, eu não ouvia mais a estrada. Foi como ficar apaixonada: dá um embrulho bom no estômago. Eu saí do quarto, olhei para aquela serra bonita e respirei fundo. E o mundo nunca mais foi o mesmo. Naquela mesma tarde aprendi o prazer de reler poemas. Acho que tudo que faço até hoje está inspirada por releituras daqueles poemas que me reescreveram naquela tarde qualquer de inverno.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

buracos

um menino preto
cava buracos nas suas costas

sem pá de plástico verde
usa as unhas, braços, costelas
lá embaixo escreve poemas
que encontram
a água do mar

você febril
sonha com um labrador nadando em buracos do mar
nas franjas da colcha

conchas

beijo suas costas
palmo a palmo
cheiro morno
mãos dadas
embaixo da coberta

sonhamos

um menino-buraco cava
costas nos nossos pretos

poemas escrevem buracos
de água do mar

"é proibido matar mosquitos na parede"

nossa rota
nossa casa
mania nossa
cavar buracos
nas costas
de sonhos-meninos