quarta-feira, 20 de agosto de 2014

A Bailarina

entre um passo e outro, da cozinha para a sala, o pé insistia numa altura inadequada, é possível que se diga, num passo de balé. Um rodopio para alcançar a privada, um pulo para se achar a frente da tv. Seu corpo dançava. Começou de um dia para o outro. Mas só acontecia em casa, quando estava só, no meio da tarde de quartas e sextas. Por vezes, se espantava quando um espelho captasse os movimentos. Era como se não dançasse só, mas para alguém que a observava e que também dançava com ela. Nesses momentos, dava um sorriso tímido, e, se o outro a olhasse mais uma vez, ficava na ponta dos pés, levantava sua saia imaginária e agradecia descendo as costas e levantando as mãos para trás. Conseguia até ouvir os aplausos. Era assim que se retirava do palco. Voltava, silenciosamente a lavar as louças.