Ontem encontrei coisas que abomino: a superficialidade, o se achar melhor do que os outros, a intolerância, o preconceito, a crença de que só o dinheiro e o consumo ostensivo podem geram prazer, o lixo da indústria cultural como único bem imaterial. Estou irritada e triste até agora porque essas coisas que abomino, encontrei em pessoas queridas, que só estavam um pouco afastadas. Este texto é como um daqueles que eu escrevia em diários de anos atrás, escrevo para entender, desabafar e esquecer.
Não sei o que está havendo com o mundo e como indivíduos assim, que eu conheço desde sempre, que eram crianças amorosas e adolescentes alegres, viraram adultos tão pouco admiráveis. Que caminhos tomamos para em 8 anos seguirmos trajetórias e escolhas tão diferentes. Chegando em casa sem resposta e sem sono abri o livro que tinha acabado de chegar pelo correio, afinal, estava arrasada e poucas coisas me dão tanto prazer quanto abrir um livro novo que há tanto tempo eu quero ler. O livro é "Diferença e repetição" de Deleuze e, assim, comecei a desfrutar da minha noite.
Logo na introdução está lá: "se a repetição existe, ela exprime, ao mesmo tempo, uma singularidade contra o geral, uma universalidade contra o particular, um notável contra o ordinário, uma instantaneidade contra a variação, uma eternidade contra a permanência. Sob todos os aspectos, a repetição é a transgressão." A repetição que sempre foi um barato meu, uma coisa que eu curtia sem saber muito com quem falar, fiquei paralisada por aquela sentença. No livro, Deleuze associa a diferença a generalidades, enquanto a repetição é singularidade.
Pensei nessas distantes pessoas queridas e em como tudo o que elas falam, prezam e desejam está muito mais no âmbito do geral que do singular. A minha bicicleta, por exemplo, representa pra mim a forma como eu quero passar pelo mundo, devagar, sentindo a brisa nos cabelos, olhando a paisagem e contando apenas com as minhas pernas. É uma opção singular, enquanto no geral, valorativamente, este meio de transporte não chega nem perto do ar condicionado do carro de vidros escuros fechados.
Poderia ficar arrumando mais algumas explicações ou exemplos, falar sobre uma certa nostalgia do transcendente que quando não é suprida pela obra de arte, acaba encontrando outros caminhos como o fanatismo religioso ou a intolerância que tenta eliminar a diferença, tudo em busca de uma pureza que já não é possível no mundo de hoje. Mas talvez seja melhor só deixar pra lá, ficar quieta, passear de bicicleta por aí recitando para mim mesma algum poema de cor. Já que "a cabeça é o órgão das trocas, mas o coração é o órgão amoroso da repetição".
Deleuze já
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