Em português temos a possibilidade de falar ser ou estar, em verbos diferentes, como coisas diferentes e eu sempre gostei disso. Parar o instante com um verbo nas outras línguas é impossível. Me lembra o portal de Zaratustra, que é das coisas mais linda que conheço e reproduzo aqui:
"Este longo corredor para trás: ele dura uma eternidade. E aquele outro corredor adiante é uma outra eternidade. Eles se contradizem, esses caminhos; eles se chocam frontalmente: e aqui nesse portal é onde eles se juntam. O nome do portal está escrito ali em cima: INSTANTE.
É como passar pelo portal a cada momento, portais e portais consecutivos: estou feliz, estou romântico, estou com fome, estou cansado, estou calma. Em outras línguas existe a não menos bela ambiguidade de que tudo que é não necessariamente será. Nós que passamos no portal, às vezes empurramos as coisas para o próximo portal, para o estatuto do estar, porque se as coisas são em português, elas são; sérias e definitivas.
Eu estou com saudade de escrever poesia.
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