meu vô sempre foi o cara. ontem cheguei no hospital para visitá-lo e ele tava falando com a enfermeira "esse cara sou eu". Enrolando a língua e fazendo graça. Meu avô parece um galã da época de ouro. Um Marlon Brando, um Tarcísio Meira. Sempre fui sua fã, sempre amei suas histórias e sua forma de ver a vida. No último natal, dei a ele um caderno para que anotasse suas belas palavras. E ele fez isso esse ano.
Faz um mês ele foi parar no hospital e teve um diagnóstico que nos assustou. Não sabemos ainda como vai ser, mas temos a certeza de que temos muito amor para dar, muito carinho para ensiná-lo a viver uma nova vida. Hoje ele volta para casa. Em seu último dia de hospital eu e o Taiyo passamos a manhã com ele. Aprendemos muito, foi um belo dia, como os outros dias que passei com o vô. Vô gosta de falar quantos passarinhos estão cantando lá fora, ou quantos tons de verde vemos nas árvores. Ontem, segurando a minha mão, ele fez um poema. O Taiyo anotou e eu transcrevo aqui embaixo. Seja muito bem-vindo de volta, Seu Amaral.
Poema do vô
25/03/2013
Eu já vi muita coisa
Eu conheço todas essas pedras
Eu conheço todos os caminhos
Eu já vi muita gente nascer
Eu já vi muita gente morrer
Muita coisa boa
Muita coisa ruim
Só não vi o homem
Tomar conta da sua cria
Tomar conta da sua cria
O jacaré eu já vi
a onça.
Sempre a cria do homem foi largada
As crianças abandonadas pela rua
O homem não liga muito para sua cria
Vi o sol nascer muitas vezes
Por trás das montanhas
Vi nascer a água por trás das montanhas
Jogando os raios de luz pelo mar
Às vezes eu sozinho, mas sentia prazer
Tem gente que não sente prazer
Eu gosto muito de música
O homem que não gosta de música
Não merece viver
Tem que ter música no sangue
Eu estou com sono
Bonito, o que estou vendo
A minha vontade não é ir pra casa
É ir na rua
ver o sol
ver o céu
ver a natureza
eu quero que a chuva me beije
que caia no meu rosto
porque a chuva tem gosto de mulher
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