segunda-feira, 9 de maio de 2011

Aos nossos discos


Há algum tempo eu tento juntar os vinis espalhados pelas casas da família, pois, como é sabido, eu curto uma nostalgia, já na adolescência, eu escrevia diário para poder ler sobre o dia anterior com saudade. Quanto aos discos, o problema era o seguinte: minha avó querida estava com a vitrola e eu nunca conseguiria tirar qualquer coisa dela e os discos do meu pai, que eram a maioria, estavam em alguma casa dele que eu não sabia qual era. A vó Dorinha depois de um tempo acabou me devolvendo a vitrola, os discos do meu pai eu consegui pegar numa faxina logo após a obra na casa e por fim, ganhei um amplificador novo do meu padrinho para poder aproveitar o som. Enfim, ontem, dia das mães, juntei tudo para um final feliz. Bom, final? Na verdade, dei uma paradinha agora, mas estou no meio de uma grande bagunça e vários discos para guardar.
É que aquele aparelho que eu ganhei no meu aniversário de 10 anos para ouvir meus discos agora parece um imenso trambolho e para arrumar lugar no quarto tive que ficar rearrumando os livros, os DVDs, o aparellho de DVD, etc. A coleção dos Pensadores, por exemplo, voltou para o armário. E os discos, que se chamavam álbuns, provavelmente por conta disso, são grandes, de uma época em que as estantes tinham espaço e que as salas tinham estantes. Os discos da minha mãe estavam escondidos em cima do armário, muito limpos, foi fácil arrumar e tocar. Os meus discos estavam na casa da minha avó e era tanta porcaria que trouxe muito poucos, afinal, ninguém passou a infância nos anos 80 impunemente. Melhor, muito melhor mesmo era pegar os disco da vó: música cubana, trilhas instrumentais de cinema, robertos e erasmos. Os discos do meu pai só consegui pegar hoje. E como eles foram salvos das traças e estavam sem capas, me deram um pouco mais de trabalho. Nada que água, sabão e flanelas não estejam dando conta. Até agora, já consegui colocar a metade para tocar, nem que seja pelo menos uma faixa.
Eu escuto e vejo como o tempo passava diferente nessa época em que se via o disco rodar e o tamanho das faixas marcadas na bolacha. A música pesava nas mãos. Você fica mais de peito aberto com a obra como um todo, a fruição era e até hoje é diferente. Eu tenho a discografia do Caetano no meu computador e perdi a conta de quantas vezes eu já escutei as minhas favoritas, até porque elas estão também no meu celular. Mas só hoje eu consegui ouvir o "Muito" inteiro, sem pular as faixas. Só hoje também, eu entendi o que meu pai sempre falou sobre o barato de "Ca-já", porque hoje eu ouvi a música pela casa e não olhando para uma tela.
É curioso pensar que esses discos da minha vó, meus, da minha mãe e do meu pai que eu juntei assim, de repente, coisa que ficou separada por anos, cada um na sua, sem o menor nexo ou familiaridade estão dividindo a mesma estante sem nenhum pudor, promiscuidade total: Jon Secada e Ravel, Daniela Mercury e Lô, Supertramp e Trem da alegria.
Mas o melhor de tudo foi ver que como num jogo da memória, os iguais foram aparecendo. Acho que meus pais depois de se separarem acabaram se recapitalizando dos discos que ficaram com o outro e eu agora tenho dois "clube da esquina", dois "álibi" da bethânia, dois "dangerous" do michael jackson, dois "gerais" e por aí vai. Assim eu vejo que eles realmente tinham algumas coisas em comum, essas identidades, que as pessoas vêem em mim, vez ou outra, e eu desconheço. Agora eu tenho em dobro esses espelhos, para ver e ouvir sempre que eu quiser.

3 comentários:

  1. " E os discos, que se chamavam álbuns, provavelmente por conta disso, são grandes, de uma época em que as estantes tinham espaço e que as salas tinham estantes." Ah, a nostalgia...
    Muito bom! Eu sou desse tempo... Que a gente ouvia música alta pela casa. Sem olhar pra tela. Era parte da experiência da vida.

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  2. Flipo. Realmente, outra experiência. e as capas. gigantes... Nóss, ouvir "Terra" em vinil... é no "Muito", né?!

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  3. NOTA DE ESCLARECIMENTO:

    Eu nunca tive disco da Maria Bethania.
    E aquele "Balão Mágico", bem, era dela, da minha filha, mas sempre me identifiquei muito com o Jairzinho.
    Quero aproveitar a oportunidade para revelar a você, Carolina, que o disco de música cubana era meu, de uma época em que eu dançava rumba e salsa numa boate para pagar a sua escola "Sossego da Mamãe".

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