quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

só tardiamente percebi que o que me embolava a garganta, o que se recusava a sair no lugar onde, se eu fosse homem, haveria um pomo de adão, o que havia estacionado entre a fala, a água, a fome, o ar. Respirava ofegante, engolia com dificuldade. Até o remédio para má digestão desceu de costas pela garganta. Estava eu e minha avó, olhando a paisagem da janela, no corredor do hospital. Havíamos feito algumas vezes esse mesmo passeio na última semana. Ela continuava a me contar os mesmos fatos, apontava para os mesmos prédios, as mesmas árvores, as mesmas ruas do centro de niterói que eu já conhecia. Foi lá que apareceu o bolo. Não na paisagem repetida pela janela. Mas no momento em que me vi ao lado da minha avó, ouvindo as mesmas repetidas histórias. No momento em que me dei conta, que meu medo maior era que as histórias não mais se repetissem. Um temor que tudo, de repente, virasse passado. Antevia um futuro saudoso que me olhava da janela. Horas depois, chorei.

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