(cantando para não esquecer a melodia)
Madrugada
Deita e rola
Madrugada
Não tem hora
Pesando sem balança
A madrugada dança
Apaga a lembrança
É hora de mudança
Madrugada
não demora
madrugada
Também chora
Não teima, criança
Que qualquer semelhança
Com aquela fala mansa
É mera abundância
Madrugada
Me ignora
Madrugada
Foi-se embora
quinta-feira, 29 de março de 2012
domingo, 25 de março de 2012
chupeta
Um dia minha mãe falou:
"encontrei uma barata na sua chupeta"
era mentira, mas só a adolescência me mostrou isso
e naquele triste dia de criança
eu tive que jogar a minha chupeta no lixo.
Com a chupeta na mão fechada
e a lata de lixo embaixo
eu chorava com medo de
abrir a mão.
Até hoje, por vezes, me sinto assim:
choro, chupeta, barata,
mão fechada e a lata de lixo.
Esse estranho momento na memória
onde eu negava o inevitável
me ensinou que quanto mais tempo
com a mão fechada
mais longo o choro.
"encontrei uma barata na sua chupeta"
era mentira, mas só a adolescência me mostrou isso
e naquele triste dia de criança
eu tive que jogar a minha chupeta no lixo.
Com a chupeta na mão fechada
e a lata de lixo embaixo
eu chorava com medo de
abrir a mão.
Até hoje, por vezes, me sinto assim:
choro, chupeta, barata,
mão fechada e a lata de lixo.
Esse estranho momento na memória
onde eu negava o inevitável
me ensinou que quanto mais tempo
com a mão fechada
mais longo o choro.
sexta-feira, 23 de março de 2012
domingo, 18 de março de 2012
domingo
tem dias que algo falta
um cheiro, uma voz
uma força qualquer
dá vontade de olhar pro lado
como criança que inventa amigo.
mas não ta lá também
fico quieta reparando no mundo:
carros, cores, pratos
e as telas luminosas
(a pipoca é comida com cuidado
no escuro)
a vista chinesa recorta a zona sul
aquele vestido preto
tem um antigo corte da moda
corta para cena 1 plano 5:
ela, no computador, lembra
que não pode pensar nele,
e escreve:
"até as coisas realmente bonitas acabam"
e vai dormir.
às vezes, é preciso ver o domingo de longe
um cheiro, uma voz
uma força qualquer
dá vontade de olhar pro lado
como criança que inventa amigo.
mas não ta lá também
fico quieta reparando no mundo:
carros, cores, pratos
e as telas luminosas
(a pipoca é comida com cuidado
no escuro)
a vista chinesa recorta a zona sul
aquele vestido preto
tem um antigo corte da moda
corta para cena 1 plano 5:
ela, no computador, lembra
que não pode pensar nele,
e escreve:
"até as coisas realmente bonitas acabam"
e vai dormir.
às vezes, é preciso ver o domingo de longe
sábado, 3 de março de 2012
ossos
de todas as partes do corpo
eu acho que a ausência
se sente nos ossos
ossos mantém de pé o que é vivo em nós
são o que sobrevive à morte.
a ausência é exatamente isso
sustentar em pé o que ainda vive
uma vez, num romance cubano,
li que o português
era a língua sem ossos.
nunca entendi direito.
mas hoje acho que falar português
é a vida pura que se carrega sem forma e sozinha.
é o avesso da ausência
é o remédio mais eficaz
talvez o único
que conheço
contra a solidão da saudade
o silêncio
ecoa nos ossos
eu acho que a ausência
se sente nos ossos
ossos mantém de pé o que é vivo em nós
são o que sobrevive à morte.
a ausência é exatamente isso
sustentar em pé o que ainda vive
uma vez, num romance cubano,
li que o português
era a língua sem ossos.
nunca entendi direito.
mas hoje acho que falar português
é a vida pura que se carrega sem forma e sozinha.
é o avesso da ausência
é o remédio mais eficaz
talvez o único
que conheço
contra a solidão da saudade
o silêncio
ecoa nos ossos
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