quarta-feira, 31 de março de 2010

Fraternidade


Eu sempre me defini através de muitos conceitos, e um deles certamente é o de filha única. Esse conceito que parece à toa, que parece apontar apenas para o fato de você há anos ter um quarto só pra você, na verdade, quer dizer que várias coisas em sua casa sempre foram só para você. Enfim, achava que com a idade que já tenho posso ser definida assim para sempre, porém, descobri que para sempre é um conceito estranho que prescreve de vez em quando. Descobri que as várias coisas que sempre foram só pra mim, coisas como atenção, amor, carinho, conhecimento, agora será transmitida para outra pessoinha que nem sei o que será. Descobri que tudo que guardei para mim até hoje, que tudo que aprendi sei lá como, sei lá onde, agora, finalmente tenho a quem transmitir, a quem ensinar. Será que essa pessoa vai querer saber o que foi a Nouvelle Vague, ou o que era o grunge, ou que a final da Copa de 94 foi no meu aniversário, ou que a nossa tia guardava dólares naquele pavoroso boneco de infância dela, ou, sei lá, como os espanhóis dizimaram os índios da América. Será que humor idiota se ensina ou ta no DNA? Enfim, tantas outras coisas que vou, de agora em diante, para sempre descobrir. A única coisa que sei é que a partir de agora eu tenho alguém para dividir tanta coisa que sempre foi só para mim e isso me deixa muito feliz.

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