domingo, 10 de maio de 2009

Dia das mães

Hoje é dia das mães e dia das mães sempre foi uma data importante na minha família. A minha bisavó Nina, a maior figura que eu já conheci e ao mesmo tempo a grande figura materna da minha mente, fazia aniversário perto do dia das mães e sempre se comemorava seu aniversário no domingo, reunia a família toda num almoço na casa da minha avó, outra grande imagem de mãe que eu tenho.
Numa data tão importante, há uns dezessete anos atrás, nossa eu to velha... Mas há anos atrás eu resolvi fazer uma grande surpresa para o dia das mães. Era uma grande coisa para mim, eu que sempre fui tímida, quieta, resolvi entregar cartões para todas as mães da minha família. Para isso, fiz uns versinhos bobos de menina de oito anos que rimava amor com flor e alguma coisa sobre mãe, mas que para mim, era um grande acontecimento, já que eu iria mostrar pela primeira vez os meus versos publicamente. Aqueles cartões de dia das mães eram a minha primeira publicação, nunca eu tinha mostrado para ninguém as coisas que eu escrevia, que naquela época, não deviam ser muitas.
Não só fiquei encarregada dos versos, mas era responsável pela concepção do agrado, e fiz todo design, que constituía em uma folha A4 que cortada ao meio (a cada folha eu fazia 2) com um coração no meio, com os versos dentro do coração, e pintei em volta com lápis de cor. Em baixo, tinham duas linhas, uma eu escrevia o meu nome e na de baixo o nome da mãe que receberia, num estilizado De Para. Estava muito orgulhosa de mim, eu não só tive coragem de me mostrar artisticamente, como assumi a minha falta de jeito para pintar e desenhar e a minha letra feia, que sempre foi um problema para mim.
Não sei que ímpeto de coragem foi esse, de me mostrar tanto de uma vez só. Eu já dançava, me apresentava em vários lugares com “as meninas do Jazz”, mas não tinha coragem de mostrar nada além do meu rebolado, mas naquele ano, seria diferente, fui com a cara e a coragem e sem medo de ser feliz ou usar clichês. O poema era “Mãe, nome de amor, mulher de magia, e toda mãe é uma flor”. Ou alguma coisa parecida.
Fiz os cartões, e usei um critério objetivo para as destinatárias: aquelas que estariam na festa daquele domingo de 1992, e eram mães. Minha avó Dorinha me ajudava com as tias mais velhas que eu não sabia se tinham ou não filhos. E assim eu fiz vários cartões, não sei quantos. Perto da data, orgulhosa de mim mesma, fui mostrar a surpresa para a minha grande amiga e cobaia nas minhas coreografias que eu insistia em inventar e ensaiar todas as noites, a minha madrinha.
Eu espera agradar pelo gesto fofo e singular que estava praticando, mas provavelmente, eu queria mais era fazer propaganda da minha própria concepção que agradar às mães. Sabe aquele altruísmo egoísta próprio de artistas? Já havia um embrião disso tudo naquela época. Só que a minha Dinha ao olhar os cartões me repreendeu: “Como você não fez para sua Dindinha? Eu sou quase uma mãe pra você?”. E ela falava a verdade. Naquela época, ela praticamente morava na minha casa, e cuidava de mim como uma filha. Eu não tinha feito para ela, porque na época, ela devia ter a minha idade hoje e não era mãe. Foi uma dura lição que aprendi sobre usar critérios objetivos e excludentes, e na faculdade de Direito, anos mais tarde, eu tentava mudar esse tipo de classificação ao me dedicar a estudar o Direito Alternativo e essas coisas que não tem futuro. Aprendi também naquele dia que nem sempre se agrada com o que fazemos, e fiquei realmente triste de não ter feito para a minha dindinha. Resolvi, então, não entregar a ninguém aqueles cartões. Guardei na gaveta e levei anos para mostrar para qualquer outra pessoa os poemas que fazia.
Anos mais tarde, na adolescência, eu também com medo de que alguém lesse os meus poemas que eu havia escrito na tenra idade dos 12, 13 e 14 anos, apaguei o disquete que há anos eu colocava tudo que eu escrevia, perdendo para sempre os poemas apaixonados dos amores fugazes e platônicos daqueles anos. Depois, com medo do meu namorado ciumento, escondi meu caderno poemas dentro do cesto de roupa suja, para ele não ver que eu continuava a escrever para o ex. Meus poemas sempre ficaram assim, em gavetas e armários temendo a crítica.
Ano passado, arrumando uma gaveta encontrei desenhos de quando eu era criança e lá estavam os cartões. Eu havia esquecido dessa história, mas no momento em que olhei aquele coração com versos, lembrei de tudo. Hoje escrevo versos na internet, resolvi publicar tudo que crio, não porque me acho o máximo, mas porque poemas na gaveta são como ressentimentos e auto-repressão guardadas. Não quero isso, quero dançar como dançava quando era criança e todo mundo achava engraçadinho. Quero dançar palavras.
Hoje, a mesma Dinha, que hoje tem uma filha que eu amo muito, veio me ver e reclamou enquanto eu estou aqui escrevendo esse texto: “Você nem me deu feliz dia das mães”. Ainda bem que hoje, minhas gavetas estão abertas.

Um comentário:

  1. Os meus também ficam perdidos nas gavetas, entre protocolos e anotações sem sentido. Uma pena você não ter entregue seus cartões feitos com tanto carinho. Eu sempre dei cartinhas de presente para todos na família, quando criança e até hoje, burra velha. Por que você ao invés de ter guardado não fez um cartão enorme para ela? E como depois disso tudo não aprendeu a lição e passou a desejar feliz dia das mães para ela?! rsrs. Carol, como somos parecidas... Te dou a maior força para você publicar todos os seus poemas e devaneios, saia dessa gaveta mulher!!! ahahahahah

    ResponderExcluir