Essa semana eu vi uns filmes pesadões, estilo prozac, que são lindos, fazem bem, mas vêm acompanhados de uma tristeza, diegética e extra diegética que muitas vezes te derrubam de sua posição confortável da sala de cinema. Os filmes Gran Torino e O casamento de Rachel fizeram isso comigo. Poucas vezes o cinema americano me fez pensar tanto sobre o mundo, seus rumos e suas/nossas pequenas tragédias.
No entanto, toda semana tenho aula sobre musicais, que tenta me mostrar que essa moeda chamada mundo tem dois lados, e muitas vezes me faz recobrar a fé na humanidade, cantarolando a canção final de cada filme. Confesso que musicais muitas vezes funcionam melhor que religião para me colocarem em estado de graça. Como assistir a O Casamento do Meu Melhor Amigo ou Vamos Dançar sendo minimamente romântico e não dar um suspiro profundo e um sorriso para o horizonte? Os problemas só começam depois desse suspiro, desse sorriso e voltamos para o mundo real (ou a sociedade de controle, como disse uma amiga minha foucaultiana).
Eu sempre gostei desse tipo de filme que te suspende da realidade, te coloca por alguns minutos fora de si, uma espécie de purificação das mazelas que encontramos no dia-a-dia. Tenho noção de que aliena, de que esquece o mendigo que pede esmola na porta do cinema ou das crianças que assaltam na saída, mas esse é o objetivo, te colocar por alguns momentos longe disso tudo. Longe, tão longe, tão absorta que você é capaz de acreditar que tudo aquilo pode ser verdade. Como canta Fred Astaire no fim de Cinderela em Paris “He loves and she loves so why can’t you love and I love too” coerente e convincente. Todo esse mundo de escapismo que conscientemente parece uma bobagem, um programa inofensivo depois dessas tardes lindíssimas de outono no Rio, são um verdadeiro veneno, e não um elixir para encarar a realidade. Essas bobagens românticas mexem tão profundamente com as nossas emoções, que passam a ser algo desejável e possível no universo feminino.
Romantismo, cinema e realidade, sempre foi uma questão para mim, pelo menos nos meus diários, acredito que o romantismo no cinema moldou muito da minha forma de agir, pensar e principalmente, esperar da vida. A verdade é que se cria um choque de ordem ao viver a realidade ao mesmo tempo em que estamos tão acostumadas aqueles códigos que assistimos no cinema, e desde criança, que nos levam a acreditar que o amor está em cada esquina, puro, indolor e arrebatador. Nem falo nos “filmes de princesas”, mas Tarzan da Disney, por exemplo, nos leva a acreditar num estatuto de amor e de ideal de vida, que ninguém espera ver muito num filme que gira em torno de macacos. Love is in the air, gritam e quando olhamos ao redor, só vemos pessoas, e muitas vezes as interpretações erradas ou tendenciosas levam a verdadeiras catástrofes, tendo a destruição do amor-próprio como a mais leve delas.
Pôr-do-sol, boa conversa, e, insisto, essas tardes de outono, elementos desse universo romântico, predominantemente feminino, levam pessoas iniciadas nesses códigos a interpretarem esses eventos como índices de amor verdadeiro. Aquele que o Fred Astaire canta e dança para a Ginger Rogers, aquele que a Julia Roberts já teve às dezenas, aquele que você insiste em buscar no seu presente, passado ou futuro.
Buscam-se esses signos cinematográficos na vida porque se deseja a felicidade mostrada na tela, como uma promessa de vida eterna. E as mulheres repetem, muitas vezes com as amigas, esse mantra do simbólico romântico como ideal de vida. Repetem porque “a felicidade é o desejo de repetição” como diz Kundera. Pergunto, será essa promessa de salvação romântica apenas um mito? Não será o amor romântico possível em nenhum espaço/tempo da nossa realidade?
Infelizmente não sei responder a essas questões. Acontece que não tenho a imparcialidade necessária para seguir investigando, pois sofro de um romantismo incurável alimentado pelo cinema americano, pela música, pela literatura, e que se retroalimenta no universo feminino. Só no universo feminino mesmo para se acreditar nessas coisas... por isso Lacan diz que a mulher não existe. Essas mulheres não existem mesmo....
PS: para as minhas amigas lindas e o universo feminino que construímos juntas
quinta-feira, 28 de maio de 2009
domingo, 17 de maio de 2009
Oito é o símbolo do infinito - para o filme das mulheres
Somos ao avesso, o infinito:
Universos em expansão
Agüentando a pressão
dos contornos femininos.
Universos em expansão
Agüentando a pressão
dos contornos femininos.
sábado, 16 de maio de 2009
Choque de ordem
Limparam todo o caos
que se instaurava
há tempos em mim.
De repente
acordei sem
angústias, sofrimento
ansiedade, vontade
levaram tudo na
enxurrada
e do nada
que ficou
percebi
que me levaram
também daqui.
que se instaurava
há tempos em mim.
De repente
acordei sem
angústias, sofrimento
ansiedade, vontade
levaram tudo na
enxurrada
e do nada
que ficou
percebi
que me levaram
também daqui.
domingo, 10 de maio de 2009
Dia das mães
Hoje é dia das mães e dia das mães sempre foi uma data importante na minha família. A minha bisavó Nina, a maior figura que eu já conheci e ao mesmo tempo a grande figura materna da minha mente, fazia aniversário perto do dia das mães e sempre se comemorava seu aniversário no domingo, reunia a família toda num almoço na casa da minha avó, outra grande imagem de mãe que eu tenho.
Numa data tão importante, há uns dezessete anos atrás, nossa eu to velha... Mas há anos atrás eu resolvi fazer uma grande surpresa para o dia das mães. Era uma grande coisa para mim, eu que sempre fui tímida, quieta, resolvi entregar cartões para todas as mães da minha família. Para isso, fiz uns versinhos bobos de menina de oito anos que rimava amor com flor e alguma coisa sobre mãe, mas que para mim, era um grande acontecimento, já que eu iria mostrar pela primeira vez os meus versos publicamente. Aqueles cartões de dia das mães eram a minha primeira publicação, nunca eu tinha mostrado para ninguém as coisas que eu escrevia, que naquela época, não deviam ser muitas.
Não só fiquei encarregada dos versos, mas era responsável pela concepção do agrado, e fiz todo design, que constituía em uma folha A4 que cortada ao meio (a cada folha eu fazia 2) com um coração no meio, com os versos dentro do coração, e pintei em volta com lápis de cor. Em baixo, tinham duas linhas, uma eu escrevia o meu nome e na de baixo o nome da mãe que receberia, num estilizado De Para. Estava muito orgulhosa de mim, eu não só tive coragem de me mostrar artisticamente, como assumi a minha falta de jeito para pintar e desenhar e a minha letra feia, que sempre foi um problema para mim.
Não sei que ímpeto de coragem foi esse, de me mostrar tanto de uma vez só. Eu já dançava, me apresentava em vários lugares com “as meninas do Jazz”, mas não tinha coragem de mostrar nada além do meu rebolado, mas naquele ano, seria diferente, fui com a cara e a coragem e sem medo de ser feliz ou usar clichês. O poema era “Mãe, nome de amor, mulher de magia, e toda mãe é uma flor”. Ou alguma coisa parecida.
Fiz os cartões, e usei um critério objetivo para as destinatárias: aquelas que estariam na festa daquele domingo de 1992, e eram mães. Minha avó Dorinha me ajudava com as tias mais velhas que eu não sabia se tinham ou não filhos. E assim eu fiz vários cartões, não sei quantos. Perto da data, orgulhosa de mim mesma, fui mostrar a surpresa para a minha grande amiga e cobaia nas minhas coreografias que eu insistia em inventar e ensaiar todas as noites, a minha madrinha.
Eu espera agradar pelo gesto fofo e singular que estava praticando, mas provavelmente, eu queria mais era fazer propaganda da minha própria concepção que agradar às mães. Sabe aquele altruísmo egoísta próprio de artistas? Já havia um embrião disso tudo naquela época. Só que a minha Dinha ao olhar os cartões me repreendeu: “Como você não fez para sua Dindinha? Eu sou quase uma mãe pra você?”. E ela falava a verdade. Naquela época, ela praticamente morava na minha casa, e cuidava de mim como uma filha. Eu não tinha feito para ela, porque na época, ela devia ter a minha idade hoje e não era mãe. Foi uma dura lição que aprendi sobre usar critérios objetivos e excludentes, e na faculdade de Direito, anos mais tarde, eu tentava mudar esse tipo de classificação ao me dedicar a estudar o Direito Alternativo e essas coisas que não tem futuro. Aprendi também naquele dia que nem sempre se agrada com o que fazemos, e fiquei realmente triste de não ter feito para a minha dindinha. Resolvi, então, não entregar a ninguém aqueles cartões. Guardei na gaveta e levei anos para mostrar para qualquer outra pessoa os poemas que fazia.
Anos mais tarde, na adolescência, eu também com medo de que alguém lesse os meus poemas que eu havia escrito na tenra idade dos 12, 13 e 14 anos, apaguei o disquete que há anos eu colocava tudo que eu escrevia, perdendo para sempre os poemas apaixonados dos amores fugazes e platônicos daqueles anos. Depois, com medo do meu namorado ciumento, escondi meu caderno poemas dentro do cesto de roupa suja, para ele não ver que eu continuava a escrever para o ex. Meus poemas sempre ficaram assim, em gavetas e armários temendo a crítica.
Ano passado, arrumando uma gaveta encontrei desenhos de quando eu era criança e lá estavam os cartões. Eu havia esquecido dessa história, mas no momento em que olhei aquele coração com versos, lembrei de tudo. Hoje escrevo versos na internet, resolvi publicar tudo que crio, não porque me acho o máximo, mas porque poemas na gaveta são como ressentimentos e auto-repressão guardadas. Não quero isso, quero dançar como dançava quando era criança e todo mundo achava engraçadinho. Quero dançar palavras.
Hoje, a mesma Dinha, que hoje tem uma filha que eu amo muito, veio me ver e reclamou enquanto eu estou aqui escrevendo esse texto: “Você nem me deu feliz dia das mães”. Ainda bem que hoje, minhas gavetas estão abertas.
Numa data tão importante, há uns dezessete anos atrás, nossa eu to velha... Mas há anos atrás eu resolvi fazer uma grande surpresa para o dia das mães. Era uma grande coisa para mim, eu que sempre fui tímida, quieta, resolvi entregar cartões para todas as mães da minha família. Para isso, fiz uns versinhos bobos de menina de oito anos que rimava amor com flor e alguma coisa sobre mãe, mas que para mim, era um grande acontecimento, já que eu iria mostrar pela primeira vez os meus versos publicamente. Aqueles cartões de dia das mães eram a minha primeira publicação, nunca eu tinha mostrado para ninguém as coisas que eu escrevia, que naquela época, não deviam ser muitas.
Não só fiquei encarregada dos versos, mas era responsável pela concepção do agrado, e fiz todo design, que constituía em uma folha A4 que cortada ao meio (a cada folha eu fazia 2) com um coração no meio, com os versos dentro do coração, e pintei em volta com lápis de cor. Em baixo, tinham duas linhas, uma eu escrevia o meu nome e na de baixo o nome da mãe que receberia, num estilizado De Para. Estava muito orgulhosa de mim, eu não só tive coragem de me mostrar artisticamente, como assumi a minha falta de jeito para pintar e desenhar e a minha letra feia, que sempre foi um problema para mim.
Não sei que ímpeto de coragem foi esse, de me mostrar tanto de uma vez só. Eu já dançava, me apresentava em vários lugares com “as meninas do Jazz”, mas não tinha coragem de mostrar nada além do meu rebolado, mas naquele ano, seria diferente, fui com a cara e a coragem e sem medo de ser feliz ou usar clichês. O poema era “Mãe, nome de amor, mulher de magia, e toda mãe é uma flor”. Ou alguma coisa parecida.
Fiz os cartões, e usei um critério objetivo para as destinatárias: aquelas que estariam na festa daquele domingo de 1992, e eram mães. Minha avó Dorinha me ajudava com as tias mais velhas que eu não sabia se tinham ou não filhos. E assim eu fiz vários cartões, não sei quantos. Perto da data, orgulhosa de mim mesma, fui mostrar a surpresa para a minha grande amiga e cobaia nas minhas coreografias que eu insistia em inventar e ensaiar todas as noites, a minha madrinha.
Eu espera agradar pelo gesto fofo e singular que estava praticando, mas provavelmente, eu queria mais era fazer propaganda da minha própria concepção que agradar às mães. Sabe aquele altruísmo egoísta próprio de artistas? Já havia um embrião disso tudo naquela época. Só que a minha Dinha ao olhar os cartões me repreendeu: “Como você não fez para sua Dindinha? Eu sou quase uma mãe pra você?”. E ela falava a verdade. Naquela época, ela praticamente morava na minha casa, e cuidava de mim como uma filha. Eu não tinha feito para ela, porque na época, ela devia ter a minha idade hoje e não era mãe. Foi uma dura lição que aprendi sobre usar critérios objetivos e excludentes, e na faculdade de Direito, anos mais tarde, eu tentava mudar esse tipo de classificação ao me dedicar a estudar o Direito Alternativo e essas coisas que não tem futuro. Aprendi também naquele dia que nem sempre se agrada com o que fazemos, e fiquei realmente triste de não ter feito para a minha dindinha. Resolvi, então, não entregar a ninguém aqueles cartões. Guardei na gaveta e levei anos para mostrar para qualquer outra pessoa os poemas que fazia.
Anos mais tarde, na adolescência, eu também com medo de que alguém lesse os meus poemas que eu havia escrito na tenra idade dos 12, 13 e 14 anos, apaguei o disquete que há anos eu colocava tudo que eu escrevia, perdendo para sempre os poemas apaixonados dos amores fugazes e platônicos daqueles anos. Depois, com medo do meu namorado ciumento, escondi meu caderno poemas dentro do cesto de roupa suja, para ele não ver que eu continuava a escrever para o ex. Meus poemas sempre ficaram assim, em gavetas e armários temendo a crítica.
Ano passado, arrumando uma gaveta encontrei desenhos de quando eu era criança e lá estavam os cartões. Eu havia esquecido dessa história, mas no momento em que olhei aquele coração com versos, lembrei de tudo. Hoje escrevo versos na internet, resolvi publicar tudo que crio, não porque me acho o máximo, mas porque poemas na gaveta são como ressentimentos e auto-repressão guardadas. Não quero isso, quero dançar como dançava quando era criança e todo mundo achava engraçadinho. Quero dançar palavras.
Hoje, a mesma Dinha, que hoje tem uma filha que eu amo muito, veio me ver e reclamou enquanto eu estou aqui escrevendo esse texto: “Você nem me deu feliz dia das mães”. Ainda bem que hoje, minhas gavetas estão abertas.
sábado, 9 de maio de 2009
Amor em espécie
Não trabalho com crédito,
débito, ou acordo.
Nesse pregão onde coloco
meu coração em risco,
aceito apenas
Amor em espécie.
Mas por hoje,
posso ficar com
esse título firmado
na verborragia
silenciosa
dos nossos olhares.
débito, ou acordo.
Nesse pregão onde coloco
meu coração em risco,
aceito apenas
Amor em espécie.
Mas por hoje,
posso ficar com
esse título firmado
na verborragia
silenciosa
dos nossos olhares.
sábado, 2 de maio de 2009
Cheguei em casa.
Encontrei a sua cara
Amassada de dormir
Olhos pequenos de remela
e lágrimas de sono.
Um sorriso.
Meu coração acelerava
Mais que a formula 1
Na TV de madrugada
– um café?
– não.
Quero apenas
Deitar, rolar na cama e,
querendo, sem querer,
subir em você,
beijar o canto esquerdo
da sua boca,
encostar o meu nariz
no teu
e dizer: “boa noite, moço”,
sorrir
e depois dormir
cheirando o teu pescoço.
Encontrei a sua cara
Amassada de dormir
Olhos pequenos de remela
e lágrimas de sono.
Um sorriso.
Meu coração acelerava
Mais que a formula 1
Na TV de madrugada
– um café?
– não.
Quero apenas
Deitar, rolar na cama e,
querendo, sem querer,
subir em você,
beijar o canto esquerdo
da sua boca,
encostar o meu nariz
no teu
e dizer: “boa noite, moço”,
sorrir
e depois dormir
cheirando o teu pescoço.
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