sábado, 21 de fevereiro de 2015

A arquitetura dos sonhos

Costumo me interessar pela arquitetura dos lugares com os quais sonho. Normalmente, eu junto duas ou mais casas que conheci, cada qual com pelo menos um cômodo ou um morador e misturo numa arquitetura nova. Algo que já tinha reparado antes é que essa construção onírica é possível através do cinema:filmar lugares distintos e colocá-los em continuidade. Essa noite sonhei com a casa antiga da minha avó, acho que mais precisamente, num período da casa, em que estava em obra para a construção de outra casa em cima. Eu tinha nove anos e o que me lembro bastante são os pelotis de madeira. Tinha um no meio da sala e eu achava aquilo bem divertido. (Certamente, queria subir como se fosse brincadeira de criança, mas nunca desobedeci meus avós). No sonho dessa noite tinham uns pelotis na garagem, mas era para o meu padrinho colocar cerca de 5 carros, com manobras loucas numa garagem em que só cabem no máximo da ocupação, 2. Lembro de estar na rua também, mas não era a rua hoje envelhecida, empobrecida, era aquela rua vívida da minha infância no início dos anos 90, com crianças brincando e vizinhas fofoqueiras. Entrei na casa para contar algo para minha mãe e minha avó e não consegui de jeito nenhum terminar de contar, pois me interrompiam sem cessar. Fui para a sala e já era um misto da sala da minha mãe, com a minha sala, com a outra casa que moramos na minha infância. Tinha uma cozinha que dava para a sala (com tapete, poltrona, mesa, bem cheia) e na cozinha tinha um cachorro. Um poodle preto, que na verdade não era poodle e quando me dei conta, a cachorra era na verdade bem grande. Quis imediatamente levá-la para passear, mas Camila estava lá em casa para conversar. Parecia ser a casa da minha mãe que tinha viajado. Não sei como, fui parar numa varanda com a qual sempre sonho. Tive poucos sonhos recorrentes na minha vida, e esse lugar vive voltando ao longo dos anos. È uma varanda grande, bem grande com um jardim enorme. Já sonhei que era paradisíco, com piscinas, chafarizes que iam caindo em sequência, mas na maior parte do tempo são só plantas mesmo, uma espreguiçadeira, e o balcão de onde posso olhar a rua. Algumas plantas caem do teto que fica em cima da cadeira. A outra parte, fica no sol. Mas nunca é muito sol nos sonhos: ou noite, ou fim de tarde, ou manhã bem cedo. Nunca senti desconforto nesse jardim de sonhos. O mais curioso é que esse jardim é sempre na minha casa. Moro lá, mas toda vez que olho sempre me surpreendo com a beleza e o tamanho do lugar. Algumas vezes sonho que é aqui em Santa Rosa, ou na rua que moro, ou na rua detrás (que não existe). às vezes parece um cenário de filme clássico sobre a antiguidade. Babilônia. Talvez, Egito. Mas às vezes parece um jardim que imagino ao ler romances românticos. Mas sempre sonho com ele na atualidade. O curioso é que sonho com esse lugar e sempre acordo.
Já pensei que se, com muita frequencia, misturo lugares que conheci no passado numa mesma casa, talvez eu conheça essa lugar. E não de imaginar só. De ter tido um jardim assim por onde já passei, vivi, amei em outros tempos.
De alguma forma essas arquiteturas loucas dizem muito sobre mim, minha vontade de juntar pessoas, lembranças, lugares e histórias novas. Esses lugares de sonho que visito à noite, ajudam a desconstruir uma saudade das coisas que vivi. Uma saudade boa de ter, e que se fosse ruim, poderia ser o único pesadelo que teria.

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