terça-feira, 2 de outubro de 2012

tempo-sol

o seu relógio me olha
lá da cama
sou medida palmo a palmo
pelo seu tempo
vejo os ponteiros
rodando
a cada letra que escrevo.
tempo
é coisa que não
deixa pegada quando passa
tento correr atrás dele
e me surpreendo quando
vejo suas marcas
no rosto,
corpo,
cabelos,
amigos

tempo é poeira que
corre pra baixo
na ampuleta
ou pra cima na estrada de chão
corro com o tempo
para um dia
me dar ao luxo de
assisti-lo da rede
brincando com os
cachorros

coloco o seu relógio
esquecido
e visto o seu tempo

de uma hora pra outra
passei a fazer coisas minhas
no seu ritmo
ando com as suas pernas longas
com a sua fome-abismo
com o coração
batendo como o seu
sincronizado
na mesma disritmia:
compassos de salsa
com um surdo no segundo tempo
ou um gol num segundo
do segundo tempo

com o seu tempo
escrevo as mesmas suas
longas linhas
por dentro das minhas
longas saias,
cubro o corpo
e me exponho em palavras
ando com o tempo
de mãos dadas
como quem caminha para
o cinema,
distraída, vejo o tempo
atravessando a rua
com outra
como se nada
bicicletas fazem vento
o bento me ensina
a fazer frases com poucas
palavras
pulo do alto do prédio
do tempo
sorteio na cartela de
não-fazeres
quais e quantos e ondes
e sigo
as brechas se abrem
sorrisos vão e vêm
o tempo-menino
mergulha na poça
com sapatos novos
e nós
sem perder tempo
fazemos o mesmo.

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