domingo, 14 de novembro de 2010

Quizás, quizás, quizás

Por conta da mostra do Wong Kar-Wai, ando revendo e pensando sobre os seus filmes e também lendo sobre o autor. Acabei descobrindo uma informação à toa: Wong Kar-wai , que já foi considerado o cineasta mais romântico do mundo, nasceu no mesmo dia 17 de julho, como eu. Eu sei, é uma bobagem, uma coincidência astral mas que faz algum sentido na minha cabeça confusa.
Eu, que costumo refletir sobre o romantismo e às vezes até me considero a boba mais romântica do mundo, percebi que o que causa essa identificação forte entre mim e o cinema de WKW é exatamente essa profunda crença no amor e no que de mais bonito pode emergir dele. Não é a ligação que ele tem com o cinema de gênero, que é o meu objeto de estudo favorito . Não é o nosso interesse, o meu teórico e o dele empírico, em reincidências, repetições e eternos retornos. Tampouco vem da adesão clara à cultura pop, principalmente no que diz respeito a músicas e à linguagem de videoclipes, como referências tanto pra ele quanto para mim. Não é ontologicamente isso; o que nos une de verdade é a crença no poder de redenção do amor.
Seja o amor não concretizado, talvez a sua forma mais sublime, seja aquele completamente esfacelado, seja o amor romântico ou não, mas o amor é o que define a forma como penso e me situo no mundo. Acredito que no cinema de Kar-wai, pelo menos nos 7 longas que vi dele, é o amor (ou a falta dele ) que move essa vontade de fazer cinema. E um cinema baseado no amor e na paixão provoca resultados como a delicadeza, a beleza, a violência, a inventividade, a musicalidade, a repetição. Um cinema-amor, o que não quer dizer necessariamente um cinema romântico, como acontece em Cinzas do passado, é um cinema de engajamento pela trama, que te pega pela emoção e pelo êxtase, sem ser previsível ou banal. É este cinema que com certeza me fez abandonar outros rumos e seguir essa trilha.
Com o peito aberto eu rio sozinha pensando nessa coincidência de nascimento entre mim e o Kar-wai e penso também que o meu irmãozinho vai nascer em poucos dias ou poucas horas, e que eu tenho todo esse imaginário de amor para doar quando e toda vez que ele quiser. É assim que me sinto ao assistir um filme de Wong Kar-wai: um recém-nascido a quem oferecem um amor milenar, bonito de doer, disposto a te abraça sempre ou quando você quiser.

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