quinta-feira, 29 de outubro de 2009
This is it
Sabe aquelas crianças de filme iraniano, que estão muito felizes, mas que você, espectador, sabe que vai acontecer alguma desgraça? Então, era assim que eu me sentia com o convite do novo filme do Michael Jackson nas mãos. Era como se eu me assistisse de longe e tivesse medo de perder o convite a qualquer momento, com essa nova onda de violência na cidade. Felizmente, eu estive a salvo dessa doideira toda e cheguei com segurança ao cinema.
Bom, que eu sou fã do Michael Jackson, isso não é novidade para ninguém que me conhece. Lembro que um dos primeiros presentes que pedi na vida foi um disco dele, o BAD e meu tio me deu a fita cassete, nada mais anos 80 que ouvir esta fita enquanto eu dançava os meu passos de jazz. O engraçado é que dias antes de eu ganhar o convite eu revi este videoclipe e fiquei impressionada com a forma que ele dançava, 22 anos depois, imagine então o impacto que ele causou naquela menina de 4 anos que pediu o disco e que adorava dançar.
Durante o filme, eu me sentia aquela menina, não porque o filme era muito bom, mas porque ele me fez lembrar dela e de como era bom ser leve e sair dançando a todos aqueles hits maravilhosos que ele cantou como ninguém. This is it é um filme para fãs e totalmente consciente das suas limitações, ao contrário da sua campanha de marketing que o torna muito maior do que ele pode ser. Portanto, não vá ao cinema esperando o melhor dos filmes, ou o documentário definitivo sobre MJ, não é nem de perto isso. É simplesmente um filme sobre o show que ele iria fazer em Londres e, conforme uma entrevista mostrada no filme, seria a sua despedida dos palcos. This is it, por ironia do destino, acabou sendo a real despedida do artista e também agora pode ser visto em todo mundo e não apenas em Londres, onde seriam os seus shows. É o cinema democratizando os popstars...
Mas voltando ao filme, o interessante é que podemos ver o quanto de vitalidade Michael Jackson, apesar de toda a sua bizarrice, esbanjava aos 50 anos. Ele deslizava suas coreografias características com muita elegância, como fazia no seu próprio (outro) estilo e igualmente leve um Fred Astaire já coroa. E Jackson não apenas dança, faz as coreografias, como escreveu as músicas e acertas seus arranjos de acordo com as necessidades do corpo para sair dançando. O filme mostra como MJ coordenava todos os detalhes daquele que seria o seu último show e não apenas um personagem estranho de uma revista de fofoca: This is it mostra o gênio que parecia adormecido depois de tantos anos sem compor e esse é o seu mérito. Mostra também a contagiante música de Michael que era dançada pela platéia miúda que podia assistir aos ensaios e como seria bom assistir àquele show.
Nas três primeiras músicas há um certo vestígio de decupagem, uma filmagem que parece ter sido pensadas antes, e o resultado é bem interessante com multitelas e Jackson para todas as direções. Já do meio para o final, as apresentações não estão tão filmáveis assim, e algumas vezes, parece que ele apenas se aquecia, indicando uma certa forçação de barra de se querer montar um filme tão longo com tão pouco material. A qualidade das imagens em alguns momentos é péssima, o que prova o quanto é um filme mais preocupado em mostrar, que em mostrar bem feito, algo bem diferente do estilo do chamado “Rei do pop” com suas espetaculares e poucas apresentações durante sua carreira.
This is it não tem a surpreendente qualidade dos videoclipes de Jackson, não é um espetáculo de show, mas é um importante documento, um registro sobre os últimos meses de um grande artista e como tal, vale ser assistido. O filme não questiona nada, não repensa nada sobre a carreira de MJ, não mostra nenhuma entrevista ou qualquer imagem sobre nada além do show que nunca aconteceu; provavelmente, isso será explorado por outros produtos, que renderão alguns outros milhões à família Jackson. Mas para quem quer matar saudades do tempo em que música pop era de excelente qualidade, vendia muitos discos e ainda tocava nas rádios, é uma ótima pedida. Veja e saia do cinema cantando “Heal the world” achando que talvez este mundo ainda tenha jeito. Afinal, nada de ruim aconteceu comigo enquanto eu seguia com o meu convite dourado para o cinema.
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