quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Roubaram a minha bicicleta

Roubaram a minha bicicleta. Quem me connhece um pouco mais, sabe que esse fato me abalou. O problema não é terem roubado a minha bicicleta, mas terem roubado o meio de transporte ecologicamente correto que me leva para qualquer lugar na minha cidade. Roubaram minha companheira de vários filmes feitos e vistos. Roubaram a bicicleta na qual eu ensinei duas amigas minhas a andarem. Roubaram uma certa sensação de liberdade que eu sentia, roubaram parte de um estilo de vida que eu adoto. Tenho outra bicicleta, não é uma perda material, são todas essas coisinhas que foram levadas a reboque, além da inevitável sensação de ter sido feita de boba que ninguém gosta de ter.
Já comprei uma nova bicicleta, mas como falei, o problema de levarem a bicicleta é que junto levam pequenos pedacinhos da sua vida, momentos que são bons de lembrar, um monte de bobagens que dão sentido ao dia-a-dia. Mas o que eu acabei chegando à conclusão, quando três semanas depois, levaram o meu celular novo, é que não vale mesmo a pena sofrer por todas essas perdas que nos deixaram lembranças boas. As lembranças são nossas, ninguém pode levar, morrem em você e nos seus diários, o que levam é apenas um link, um objeto entre a materialidade e as suas lembranças. Continuar, perseverar deixa tudo mais vivo que nunca, faz a sua perda material praticamente ser esquecida, ao contrário do que se viveu e é lembrado.
Afinal, nos levam todos os dias muitas coisas. Às vezes nos levam a energia e nem reclamamos, nos levam a alegria, o emprego nos tomam, a inocência, até a generosidade levam de nós e nós não vamos dar queixa na delegacia, ou reclamamos por aí. Quando pessoas são roubadas de nossas vidas, sem mais nem menos, nos sentimos idiotas, reclamamos, mas nada além disso. Seguimos em frente, vivemos. E é isso que devemos fazer, recuperar a vivacidade, toda vez que nos tomarem ela.
Tem gente que acha que saber viver seria se desligar, nada no bolso, nas mãos ou estacionado por aí, metaforicamente, é claro. Pode ser, não sei. Penso apenas que talvez, saber viver seja exatamente não deixar que as lembranças boas se esvaiam, que as bads não tirem a vivacidade das coisas, mesmo que talvez a gente mude o comportamento, mesmo que talvez a gente precise de uma tranca melhor.

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