Eu pouco falo de música nos meus blogs. Nesse nunca. Pois é, eu ando ouvindo uma música algumas vezes por dia há algum tempo e não me canso. Sabe essa sensação? É boa, né? Parece quando você está apaixonado e quer lembrar daquela pessoa, mas nesse caso, você ouve a música sem paixão nenhuma.
Música é sempre uma boa referência para mim quando penso em clima num filme, por ela ser uma ligação direta com as nossas memórias, com o nosso repertório de imagens, sons e cheiros. Acho que a música, diferente de um filme ou um livro, te leva para um universo além dela com muita facilidade. O livro te prende àquele universo dele e te dá o trabalho (maravilhoso, mas ainda, trabalho) de criar o universo junto conforme lemos. O filme te carrega para aquele universo e ficamos esperando a próxima cena, o próximo passo, o desfecho, as referências, os atores. Com a música é diferente, você fica imerso nela, quando é boa, mas ao mesmo tempo, consegue alcançar um outro mundo, novo, que você cria na hora que escuta, cria uma identidade com a música, um mundo próprio, um avatar da canção que vive para sempre no seu coração.
E o que mais me intriga e me faz ser tão fã dessa arte é a forma deliciosa que a música é degustada: você relaxa, fecha os olhos e ouve. É simples, é bom e não cansa. Como já falei, o livro te dá trabalho, e como já deixei pistas, o filme também, a música, ao contrário, te tira o trabalho. Você consegue trabalhar e ouvir música, e o trabalho se torna muito mais agradável. Escrever ouvindo música, só não dá pra fazer filme com música e um dia eu descrevo a experiência de um set de filmagem.
Mas isso tudo é por causa de uma música linda que ouço tantas vezes por dia, como falei acima. Uma música do disco novo do Arctic Monkeys, chamada Cornerstone. O que me impressionou nessa música além da melodia triste e deliciosa foi a letra inteligente, triste e bem sacana no final. Ela traz imagens lindas da dor da saudade como “eu alonguei a minha carona pra casa, deixei ele dar várias voltas; eu senti o seu cheiro no cinto de segurança e guardei os meus atalhos para mim”. É linda essa imagem de como pode ser miserável o amor.
O clipe é estranho e parece ter sido feito pelo personagem da música, apaixonado, desesperado, que precisa gravar esse recado para a moça da canção. É estranho e contagiante, aliás, foi este clipe estranhíssimo que me fez prestar atenção na música e posteriormente no disco, que PRECISA ser ouvido, onde Cornerstone brilha mais que as outras. É a MTV que continua prestando o serviço que deveria ser sua função nos breves programas de clipe da emissora.
Mas cornerstone criou uma bela imagem no meu coração, uma tristeza de amor boa de sentir que eu consigo ter toda vez que começa a tocar. Eu revisito todas as dores de amor que já tive na vida, lembro da dor do Victor em Carne Trêmula, lembro da dor do personagem de “Fim de caso”, de Graham Greene e de todas as dores de amor e superação delas que conheço. Até que a música acaba e naquele tempo de silêncio eu me sinto um pouco abandonada pela imagem que foi embora. Por isso, repito e ouço novamente até estar preparada para, em poucos acordes, criar outro mundo, outra imagem, outro clima e remover outros sentimentos na próxima canção.